É curioso que o opus 127 de Beethoven, composto entre 1822 e 1825,
mantenha muitas semelhanças com o quarteto no. 14 de Schubert, de
1824. Houve quem aventasse possíveis influências deste sobre aquele,
argumento logo refutado porque a obra de Schubert só foi estreada
em 1º de fevereiro de 1826 - e publicada apenas postumamente, em
1832. As afinidades, entretanto, são evidentes. A começar do "Adagio"
com variações do opus 127, primo próximo do "Andante con moto" que
fez as glórias deste quarteto de Schubert, levando-o a ser modernamente
até trilha de cinema e nome de filme. Cada um a seu modo, eles trataram
de remexer nas estruturas do paradigma da música de câmara. Era
natural que vez por outra determinadas soluções formais se cruzassem.
"A morte e a donzela" nasceu como "lied", composto em 1817 por
Schubert sobre poema de Mathias Claudius. Quando reutilizou a melodia
da canção como tema do "Andante" com variações do 14º quarteto,
Schubert propiciou o apelido à obra e a razão de sua popularidade
nestes quase dois séculos. Isso tudo apesar do tom fúnereo e sombrio,
da canção e do quarteto como um todo. É impressionante, de fato,
o modo como Schubert retrata a história da donzela levada pela morte.
Os quatro instrumentos expõem o tema da abertura do "Andante" em
acordes (como no "Adagio" do opus 127) e em seguida o primeiro violino
desgarra-se, como se assumisse o papel da morte, cavaleiro que leva
a galope a donzela para a morte. Espraiam-se, em seguida, as cinco
variações.
Depois de um magnífico scherzo construído a partir do motivo do
coral inicial do Andante, torna-se impossível deixar de ouvir o
"Presto" final, mesmo com seu frenético ritmo de tarantella em ré
menor, à maneira de uma dança dos mortos. Ou mesmo um delirante
cortejo fúnebre.
10 e 12 de junho
Quarteto Prazak
|